Catacumbas de Paris
- Lugar
- 19 de set. de 2017
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Muitas pessoas nem imaginam, mas embaixo da cidade de Paris há centenas de quilômetros de túneis. Nesses túneis há canais e reservatórios, prisões, criptas, discotecas e galerias, cofres bancários e mais de 400 km de extensão cheios de ossos que possuem mais de dois séculos de existência.
Os túneis subterrâneos de Paris surgiram no século 13 graças à mineração. Na época, a extração de calcário era extremamente necessária para a construção de edifícios da cidade.
A extração foi tão grande que uma Paria subterrânea foi criada: as Carrières de Paris. Uma rede intrincada de túneis e, em sua grande parte, na parte sul da cidade.
Tudo começou quando os cemitérios passaram a sofrer com a superlotação. Não havia local na cidade para enterrar os mortos e os corpos eram colocados uns sobre os outros.
Para solucionar o problema, em 1785 o Conselho de Estado Francês decidiu construir novos cemitérios na cidade. Porém, isso não resolveria o problema. Os demais cemitérios estavam superlotados. Ou seja, mesmo que os mortos passassem a ser enterrados nos novos cemitérios, ainda assim havia o problema de superlotação nos demais. E, como sempre, era a população quem pagava o pato.
Um dos casos mais graves aconteceu com o cemitério “des Saints-Innocents”, o mais importante da cidade na época. No ano de 1780, este cemitério chegou a um nível de lotação tão grande que a população que morava ali nos arredores começou a adoecer devido à contaminação provocada na água e solo. Para você ter uma ideia, há dados históricos que relatam mais de MIL CORPOS em uma única tumba. Eram 2 metros de cadáveres por tumba!
Essa situação horrível acabava resultando em mais mortes e lotando ainda mais os cemitérios.
Para você ter uma ideia, em Les Halles, um mercado que era bem próximo do cemitério “des Saints-Innocents”, o cheiro era insuportável. Não tinha perfume que resolvesse aquele mau cheiro. Isso prejudicava muito os negócios no local.
A situação era tão degradante, que em 1763 o rei Luiz XV resolveu proibir que qualquer corpo fosse enterrado dentro de Paris e que os corpos excedentes fossem removidos. Mas como a Igreja não queria que cemitério algum fosse movido ou perturbado, nada foi feito.
Até que em 1780 houve um período de muita chuva no mês de maio. O peso dos corpos era tão grande que com aquela umidade toda o chão cedeu e causou a queda da parede do mercado Les Halles. Corpos em decomposição e ossos inundaram o local, o que causou ainda mais contaminação.
Como a situação já era de calamidade pública, em 1786 surgiu a ideia de esvaziar os cemitérios e mover os corpos para os túneis abandonados da cidade.
Você pensa que foi moleza esvaziar esses cemitérios? Olha, foi um terror! Eles moveram aproximadamente 6 milhões de pessoas. Sim, MILHÕES.

Para tornar a tarefa um pouco menos repugnante para os moradores da cidade de Paris na época, eles moviam os corpos durante à noite e os cobriam com um pano escuro. Imagine o tanto de histórias que deviam aparecer.
Durante a Revolução Francesa os corpos eram colocados diretamente nas catacumbas de Paris. Não se pensava duas vezes. Inclusive, entre os recém-chegados estavam Maximiliano de Robespierre e Jean-Paul Marat, figuras ilustres da revolução.
Foi apenas em 1876, com o surgimento de novos cemitérios, que as Catacumbas de Paris pararam de receber corpos.
Logo na entrada, existe a inscrição: 'Arrete: c'est ici l'empire de la mort' (Pare! Começa aqui o império da morte). Os corredores são escuros e estreitos e só pode entrar uma pessoa por vez. O clima é aterrorizante.

Como dito anteriormente, nos túneis de Paris não há apenas milhões de cadáveres, também há discotecas e bares que dão acesso às catacumbas. A única questão é que muitos desses acessos (ou seriam todos?) dão acesso às áreas proibidas.
Hoje, apenas 2km de extensão das catacumbas estão abertos para visitação. Quem se arrisca indo ao trajeto proibido é pego pela polícia francesa e paga 60 euros de multa.
Mas para quem está pensando em se arriscar mesmo assim e quer explorar o lado das catacumbas que ninguém mostra, muito cuidado. O maior motivo para esta proibição é o óbvio: pessoas se perdem lá dentro.
A história mais conhecida é de Philibert Aspairt. Ele era o porteiro do hospital Val-de-Grâce durante a Revolução Francesa. Ele morreu no ano de 1793 e o seu corpo foi encontrado apenas 11 anos depois. Philibert foi enterrado no mesmo local onde morreu e segundo relatos todos aqueles que acabam se perdendo nos túneis possui a experiência de conhecer o espírito de Aspairt.

Por isso, sim, é perigoso. São muitos quilômetros, escuro, tudo parece igual. Não dá para se arriscar a não ser que você tenha um guia experiente e que conheça bem o local. A questão é que você só encontra esses guias em sociedades secretas de Paris.
Se acha que vale à pena o empenho porque a sua curiosidade é grande demais, quem sabe seja uma boa ideia se aprofundar neste assunto das sociedades secretas.
Em todo o caso, para quem deseja fazer uma visita normal, a entrada é de apenas 12€ e o valor reduzido é de 10€. O tour leva cerca de 45 minutos e são permitidas apenas 200 pessoas por dia.
Sugiro que você não esqueça o casaco, viu? Lá embaixo a temperatura é de 14 graus. Não é um frio medonho, mas incomoda se for despreparado.
Texto retirado de: ladica.com.br
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